segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Sweet heart of mine, stop feeling the blues

Ainda ontem, eu suspirava apaixonada. Feliz com a surpresa boa que era você, sempre preocupado, sempre por perto. Tão bom acordar sorrindo com a certeza de que é amor, de que é pra valer, de que pode sim ser para sempre. Olhar para você e querer retribuir os sorrisos bobos que provoca em mim, as cócegas que brotam de todos os cantos do meu corpo e os sonhos lindos que me visitam acordada.

Pena que amar te faça sentir tão grande e tão pequeno ao mesmo tempo. De um dia para o outro, seus super poderes se vão. Resta uma capa rasgada e um herói bundão. De fato, quem ama vai do céu ao inferno em três tempos. A velha questão "É recíproco ou não?" é uma constante que assombra e tem alto poder de destruição.

Sim, amar é um doce tormento. E, por vezes, erramos na dose. A doçura enjoa, o açúcar amarga na boca do estômago. A fome se farta, dando lugar a um jejum por opção.

Insegura me deito. Sem saber por quem você se apaixonou. Pelo conjunto de cacos que realmente sou ou pelo ideal de mulher perfeita que nunca fui? Meu sorriso também some, minha maquiagem borra. Sou muito mais erro que acerto. Muito mais dias ruins do que dias ensolarados.

Caminhar comigo é andar no escuro. Caixa de Pandora que sou, escondo criaturas divinas e monstros tenebrosos na bagunça que há dentro de mim.

Se apaixone por um brinquedo quebrado, conserte uma caixa de música muda. Não conte com a felicidade gratuita, mas sim faça nascer sorriso onde já rolaram lágrimas.

Longe da luz e das cores, o percurso parece cinzento, é verdade. Seja bem-vindo ao meu verdadeiro eu!

terça-feira, 1 de maio de 2012

Rito da chuva

Será exagero pedir um abraço quente quando o frio interior é mais intenso que aquele que insiste em levantar as cortinas e embaçar as janelas? Ou será pecado torcer pelo entrelace de pernas e encontro de pés em uma noite chuvosa? Peço uma xícara de café e biscoitos de aveia e canela. Mas não vêm acompanhados de um papo. Nessas horas, quero encontrar um par de olhos que falem sobre a vida - passado, planos. E também uma moldura de dentes que me façam perder o juízo. Quando as gotas geladas batem no meu rosto, rezo para que, milagrosamente, elas se transformem em beijos (com sorte, apaixonados). O travesseiro, velho amigo, me consola junto do edredom enquanto a noite não chega ao fim. E, ao chegar da manhã, nada de massagem na nuca ou cafuné... É o alarme que me desperta para um novo e vazio dia de solidão.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Amargo é o sono de quem esqueceu como sonhar

Ei, vida, lembra de mim? Em algum momento já fomos amigas. Mas há quanto tempo não te vejo. Desaprendi o nome das cores, não sinto cheiro e nem dores. O tempo virou apenas um espaço, que diariamente preencho com o vazio. Vazio este, aliás, que me acompanha. Nos versos brancos, nas rimas que se perderam. Provavelmente, junto do meu riso, da delícia que é o gosto da felicidade. Não sei se envelheci, endureci, apodreci. A questão é que acinzentei. Cinza como tudo que vejo ao meu redor. Isso dói. E é ruim a dor sobre um corpo já dormente, calejado. É ruim lágrimas salgadas abrindo ainda mais os cortes, queimando, deixando novas cicatrizes. Olho para os meus pés e vejo exatamente o que me tornei: um pedaço de carne, feio, machucado e rejeitado, que tudo que mais quer é um carinho, mas ao mesmo tempo afasta com força quem se atreve a se aproximar. Esses meus quase 21 anos pesam como se fossem 100. Eu penso no futuro, sim. Entretanto, os planos são tão doces e vívidos que não parecem meus. O amanhã que idealizo está além do que pode ser. Do podre, não nasce flor. O que está morto não faz brotar vida. Choro, sim, e escrevo porque não posso gritar. Gritar o grito que faz nó em minha garganta, que me sufoca e acorda todas as noites. Os sonhos ruins já não são piores que quando abro os olhos e vivo minha realidade. Tudo que toco vira pó. E o que seguro foge como água. Destinada à solidão, às tolas utopias, ao fracasso. Isso dói. Mas não mais sente dor o corpo dormente. Que a dor mente e, ainda que inexistente, faz do ser um sofrer.