sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Amargo é o sono de quem esqueceu como sonhar

Ei, vida, lembra de mim? Em algum momento já fomos amigas. Mas há quanto tempo não te vejo. Desaprendi o nome das cores, não sinto cheiro e nem dores. O tempo virou apenas um espaço, que diariamente preencho com o vazio. Vazio este, aliás, que me acompanha. Nos versos brancos, nas rimas que se perderam. Provavelmente, junto do meu riso, da delícia que é o gosto da felicidade. Não sei se envelheci, endureci, apodreci. A questão é que acinzentei. Cinza como tudo que vejo ao meu redor. Isso dói. E é ruim a dor sobre um corpo já dormente, calejado. É ruim lágrimas salgadas abrindo ainda mais os cortes, queimando, deixando novas cicatrizes. Olho para os meus pés e vejo exatamente o que me tornei: um pedaço de carne, feio, machucado e rejeitado, que tudo que mais quer é um carinho, mas ao mesmo tempo afasta com força quem se atreve a se aproximar. Esses meus quase 21 anos pesam como se fossem 100. Eu penso no futuro, sim. Entretanto, os planos são tão doces e vívidos que não parecem meus. O amanhã que idealizo está além do que pode ser. Do podre, não nasce flor. O que está morto não faz brotar vida. Choro, sim, e escrevo porque não posso gritar. Gritar o grito que faz nó em minha garganta, que me sufoca e acorda todas as noites. Os sonhos ruins já não são piores que quando abro os olhos e vivo minha realidade. Tudo que toco vira pó. E o que seguro foge como água. Destinada à solidão, às tolas utopias, ao fracasso. Isso dói. Mas não mais sente dor o corpo dormente. Que a dor mente e, ainda que inexistente, faz do ser um sofrer.